Os Mortos de Sobrecasaca

"Havia a um canto da sala um álbum de fotografias intoleráveis, alto de muitos metros e velho de infinitos minutos, em que todos se debruçavam na alegria de zombar dos mortos de sobrecasaca. Um verme principiou a roer as sobrecasacas indiferentes e roeu as páginas, as dedicatórias e mesmo a poeira dos retratos. Só não roeu o imortal soluço de vida que rebentava, que rebentava daquelas páginas."

Carlos Drummond de Andrade, Os Mortos de Sobrecasaca (Sentimento do mundo, 1940)

domingo, 4 de outubro de 2020

Vai, foge Barão! Para onde, se me fazem Visconde?

 

Como contador de estórias que dizem que sou, resolvi partilhar uma pequena estória de família da minha querida mulher, Maria Amélia Teixeira da Mota da Costa Leme.


Maria Amélia Teixeira da Mota da Costa Leme.

H
á uns anos atrás, não muitos... 

Nasceu uma menina que recebeu o nome da sua avó paterna, Maria Amélia Pereira da Mota, brasileira de Fortaleza, neta do "brasileiro" Barão de Esposende, natural da terra, emigrante benemérito, cuja fortuna usou em parte para financiar a construção da ponte de ferro de Fão, em Esposende. Valeu-lhe o título de Barão, numa altura em que aos beneméritos e financiadores da coroa portuguesa, principalmente nos reinados de D. Luís I e D. Carlos I, eram dados títulos como reconhecimento, que levou ao surgimento de uma nova aristocracia. 
Almeida Garrett caricaturou a nova mudança na sociedade, com tantos novos títulos a surgir, através da célebre frase - "Foge cão que te fazem Barão! (respondeu o cão) Para onde, se me fazem Visconde?" 

Maria Amélia Pereira da Mota
e filho José Manuel da Costa Leme.

Barão de Esposende,
António Pereira da Mota.
Baronesa de Esposende,
Sizínia Amélia Purga
 da Silva.

Esta menina, nascida no Lobito, em Angola, era filha de Maria Teresa Corte Real Teixeira da Mota, Senhora da Casa da Cruz e descendente da velha aristocracia portuguesa com ramo na alta aristocracia francesa, da época do Rei-Sol, Luís XIV, e de José Manuel da Costa Leme, primo e também ligado ao mesmo ramo da aristocracia francesa da mulher.
     Brasão da família Teixeira da Mota
 (Barros, Macedo, Teixeira e Mota).



Anne de Chabot de Rohan, Princesa de Soubise.
Viveu no Palácio de Versailles e foi uma das amantes preferidas de Luís XIV.
O seu marido, François de Rohan, Príncipe de Soubise,
da velha aristocracia francesa e primo da mulher,
consta que recebia quantias avultadas para manter
 os caprichos do rei francês.
Aliás um dos filhos (ou mais),
que foi Cardeal, era filho ilegítimo da princesa e do rei.


Solar da Cruz, Casa Mãe da família Teixeira da Mota, em Gagos, Celorico de Basto.
Anos 20 do século XX.

Escadaria do Solar a Cruz.




Visconde de Negrelos, Montariol e Barão de Esposende, José Manuel da Costa Leme, era engenheiro civil, cuja atividade foi principalmente desenvolvida nos portos de Angola. Filho de um convicto republicano, Américo Francisco da Costa Alpoim, diplomata, que foi cônsul na Suíça e Secretário-Geral de Bernardino Machado, Presidente da República.

Visconde de Negrelos, Montariol e
Barão de Esposende
Eng. José Manuel da Costa Leme.



Américo Francisco da Costa Alpoim.

O seu filho degenerou! Era um monárquico convicto, excelente pessoa certamente. Mas o destino pregou-lhe uma partida... A filha a que deu o nome da sua mãe, nasceu no dia da implantação da República em Portugal, a 5 de outubro. Não! Filha dele não nasceria na data do fatídico dia! E a solução foi registá-la como tendo nascido no dia anterior, a 4 de outubro! 
Desde então a data do aniversário desta menina passou a ser celebrado naquele dia! Maria Amélia não podia fazer anos no mesmo dia da República.

A família e amigos no batizado da filha Maria Filipa Teixeira da Mota da Costa Leme, no Lobito, em Angola. 


Enfim, curiosas estórias de família que ditam o destino de quem se vê envolvido nelas.

Maria Amélia e a mãe Sra. D. Maria Teresa Corte Real Teixeira da Mota
no carro da família, um famoso Princess.



Dedicado à minha "Baronesa" Maria Amélia.